DANIELLE CUKIERMAN
Raspas e restos me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Cazuza (com Frejat), Maior abandonado
Em seu trabalho, a artista se utiliza de resíduos, de materiais precários, do descarte da vida urbana: embalagens, carpetes plásticos, cobertores baratos – os mesmos que cobrem à noite, nas ruas escuras das cidades, pessoas também descartadas. Mas não busca ser panfletária e foge do piegas, da crítica fácil: em suas mãos o material barato se transforma, ganha o cubo branco de uma galeria dentro de uma moldura que diz: é uma obra de arte. Poderia ser um Barnett Newman, pensa o espectador, na fruição do belo. Tantas vezes nosso olhar passa por esse material sem se deter. Tantas coisas ficam invisíveis simplesmente porque não lhes damos “valor”. Mas Danielle descobre algo mais nesses descartes e nos apresenta um novo olhar que valoriza o banal, o simples, o rejeitado. Raspas e restos lhe interessam. Embalagens esvaziadas da função primeira lhe interessam. Lixo passa a ser arte, agora carregado de significâncias. O acúmulo, os excessos, a tecnologia e a obsolescência, tudo isso motiva a artista, como motiva tantos outros que voltam seus olhos para o mundo contemporâneo. Mas a maneira estetizada, tão ao gosto do modernismo, de apresentar sua matéria-prima, fugindo do óbvio e do kitsch, é o que, ao nosso ver, torna seu trabalho mais instigante e contundente.